sábado, 30 de janeiro de 2010

Peixes


Nas profundezas singradas,
a dança dos peixes 
confunde-se com
a volúpia dos seres.
Escamas de pedra,
limo límpido e luminoso.
É água, é sal, é carne.
Movimentos líquidos
da vida revelada.
É luz, é som e imagem rara.
Um peixe sinuoso
entre corais e âncoras.





quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Universos paralelos


Nada sei sobre a existência de outras dimensões.
Sei que meu olhar é bidimensional diante da real
condição humana.
Varo noites insones para ir além do que sou.
Contra a minha própria condição precária, luto.
Evolução natural.
Triste é saber que muito mais há de pessoas
que nada sabem, menos ainda, querem saber.
A vida é dura.
Não ignoro o fato desse mundo insano destruir
heróis, construir ídolos vazios, o mundo de quem?
Dos homens ocos.
Sei que posso enxergar um pouco além disso tudo,
sei que devo perseguir os caminhos profundos.
Mundo de loucos.
Não dos mansos, que mal algum fazem aos outros,
mas dos que se julgam lúcidos e degradam a nossa
condição humana.





Verde



Eu verde
vivo de verdades.
A minha mão é vasta
para a colheias escassas.
Coletando sementes sou
primitivo ser temente ao sol.
Cresço nos caminhos que traço
em cada traçado, o meu destino, teço.
Montanhas de ervas e flores orvalhadas
me mantem acesa em longas madrugadas.
Nas escuras manhãs da alma pressentida
me vejo melhor no espelho da lua matutina.
Em longas caçadas, não me perco de mim.
De volta ao lar eu me sou até o fim.
Na estrada de terra, na mata ou rio
cortando ventos, vencendo o frio.
Fugindo ou enfrentado feras.
É a vida que me faz
verdade
verde.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Chuva de cores





Hoje, dia dos sonhos.
Sonhei ainda acordada.
As cores do mundo inteiro
caiam do céu como água.
Em casa, pela janela,
o horizonte iluminado,
era o sorriso da vida
brilhando feito espada.
Corri para ver de perto
o arco-íris derramando
sensações no meu corpo.
Da sacada, precipitei
a minha face colorida.
Tão livre e tão leve,
o espetáculo do mundo.
Sem querer tocar os sonhos,
sem me queimar nos medos.
Tão livre, não suspeitava
das surpresas recebidas.

Luzes no asfalto


Do alto desta cidade,
a visão noturna.
Beleza ilusória emana
do asfalto ainda morno.
Da janela do edifício,
posso sentir as luzes,
 a zombaria dos carros.
Beleza quase morta
  nos olhos dos passantes.
É pura chama.
As ruas, ao anoitecer,
são caminhos de brasa.
O fogo infame dos faróis
ávidos por chegar.
Onde? Algum lugar.
A busca incessante.
Todos a caminho
do futuro, com as mãos
amarradas no passado.
Enquanto a vida se vive
e se apaga neste instante.



A flor de Lótus


A lama formada
não deforma a flor.
Aflora límpida lágrima
da face maculada.
Clara sobre musgos
cresce silenciosa.
A mão que escreve
é a mão que planta
sementes de luz
e brota em chão difícil
uma estrela úmida.