domingo, 14 de março de 2010

Aquela do retrato



    Imagem: Rafael Olbinski

Não sou aquela do retrato,
que outrora silenciosa,
ignorava a própria sombra.
Que de medo não ousava
levantar a própria voz,
na busca dissonante
de estradas errantes.

Aquela do retrato
não ousaria jamais avançar
o sinal vermelho,
não transgrediria nem mesmo
suas leis interiores.
Destruir estradas de ferro,
construir caminhos de terra.

Não teria tempo para dançar
uma voluptuosa canção.

Aquela do retrato,
que outrora, resignada
rezava e esperava sempre
as coisas acontecerem
para o bem ou para o mal,
esperava com a cabeça baixa,
pálida e olhos distraídos.

Aquela do retrato,
 somente imagem, papel e tinta,
deixou o mundo com os mesmos
trejeitos de um anjo aleijado,
saiu bem devagar,
abandonou o campo minado.
Hoje me habita sublime e solitária
uma fera, senão um demônio.
Com a força dos ventos
e a frescura das chuvas impetuosas.
Reina soberana uma outra senhora,
mulher selvagem, de fogo e de terra.

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